domingo, 19 de janeiro de 2014

Placards das BE nas Escolas - Mensagem de inverno



DIAS DE INVERNO

Nestes dias de frio, tudo e todos ficam mais recolhidos, menos afoitos. Reina um tipo de delicadeza. A delicadeza de falar mais baixo, de estar mais em casa, buscar aconchego, sair menos à rua, especialmente à noite, ou de madrugada, reduzindo as hipóteses de acontecimentos funestos. (Será que há menos crimes, nestes dias e noites? Será que os criminosos não pensam melhor antes de sair para invadir, roubar, ferir? Talvez.)
           O facto é que dessa delicadeza vem mais poesia, mais cuidado, mais olhos nos olhos e intimidade, inclusive com as nossas coisas de cada dia. Mesmo que à força, olha-se melhor para dentro. Para dentro da gente, dentro de casa, dos armários, das gavetas. E pensa-se nos outros que, se têm gavetas, não têm agasalhos dentro delas. E constrange-se o coração de muitos. Logo surgem campanhas de solidariedade, de recolha de agasalhos, de alimentos. Alguma partilha. Não se vê, no verão, distribuição de calções, camisolas, fatos de banho... Não se constrangem os corações pelo calor que os menos favorecidos passam, até porque onde não há o fresco do mar há o de um rio, de um tanque ou torneira, e muito menos se desencadeiam campanhas para doar bebidas frescas, gelados e saladas…
         Nestes dias frios há mais silêncio, mesmo de dia, inclusive da parte dos animais, como se dessem tréguas a correrias, barulheiras e latidos e à presença de aranhas, baratas, formigas. O olhar é mais atento, menos disperso, mais perspicaz: sente-se mais. E sentarmo-nos ao sol que não queima nem faz suar aquece também a alma, convida a sonhar, adormecer de leve, namorar... Daí ser-se mais comedido, haver menos espalhafato, mais elegância. Anda-se mais devagar, sempre que possível, talvez para armazenar calor, e isto prolonga os passeios e as conversas, se se está em paz. Dá vontade mais vezes de fazer pipocas e tomar chocolate quente, de beber mais chá ou café, de fazer um bolo ou pão para comer morninhos, ficar junto, conversar. Abraçar o cobertor que ficou quente na janela (que delícia!), e aproveitar aquele sítio da cama (ou de qualquer outro lugar) onde o sol bate à tarde, ou de manhã, e sentar – se ali, com um livro, um bordado, o tricot e aquecer os pés, as costas.
       Afinal, pelo menos para alguns de nós (e que bom podermos ser esses), tudo pode ser tão simples!    
 
               (Adaptação de um texto publicado na Internet, de Fátima Ricci)


Sem comentários:

Enviar um comentário