domingo, 9 de abril de 2017

Semana da Leitura & Semana do Agrupamento nas nossas Escolas

A Semana da Leitura 2017, subordinada ao tema “O prazer de ler” decorreu nas Escolas Básicas do 1ºciclo e Jardins de Infância e prolongou-se pela Semana do Agrupamento, levando a todos a magia das palavras,  envoltas em  imagens e  música.

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Modo de amar
      Eu queria ter um cão, mas a minha mãe diz que os cães fazem muito barulho a ladrar e que, por vezes, mordem. Diz também que se tivermos um cão durante muito tempo ficamos com a cara parecida com o seu focinho. A mim custa-me acreditar, mas é isso que a minha mãe me responde. Nem imagina o quanto fico infeliz, parecido a ter vazios por dentro.
      Eu pedi:
      - E se tivéssemos um gato? Um gato, nem que seja pequeno, para eu brincar.
      E a minha mãe respondeu;
      - Um gato, nunca. Larga pêlo e afia as unhas nos cortinados.
      - Oh, mãe, um gato quase nem precisa de gente, vive sozinho com o seu nariz. E se fosse um peixe? Um coelho? E se fosse um crocodilo bebé? – insisti eu.
      E ela explicou:
     - Os peixes entristecem num aquário e os coelhos trincam-te os dedos. Os crocodilos bebés crescem muito para serem crocodilos adultos capazes de te comerem de uma só vez. Nem pensar. Os bichos todos trincam, meu filho. São um perigo.
     Durante uma noite, a sonhar muito com estas coisas, comecei a ouvir piar. Parecia-me um pintainho, talvez um filhote das galinhas da vizinha. Sempre a sonhar, fui à janela e pensei em acordar. Se acordasse, pediria um pintainho à minha mãe, que não farão mal nenhum, não são violentos, são só bonitos e divertidos, parecem algodões amarelos com olhos e patas minúsculas. Ouvi mais de perto e era mesmo um canto delicado. Um som elaborado que não faz um bicho qualquer. Percebi, tinha de ser um pássaro, um canário que andava no meu sonho a voar.
      Se pudesse acordar, pensei, pedia à minha mãe um canário assim.
     Julgava eu que aquilo era um bicho no sonho quando, acordado já de manhã, o continuava a escutar. E para a escola o caminho todo e durante as classes, e depois no caminho de volta, e durante o dia inteiro, ininterruptamente o pássaro cantava.
     Eu disse:
      - Mãe, acho que fiquei despreocupado da lucidez. Ouço sempre um pássaro cantar. Talvez só me cure se aprender a voar.
     A minha mãe sorriu e eu repeti:
     Quem se vê proibido de amar inventa outra realidade, uma realidade melhor, ainda que seja por fantasia. Vivo na fantasia, mãe.
      Depois, calei-me. Sabia perfeitamente o que acontecera. Tinha um pássaro no coração. Era, assim mesmo, o lugar mais decente para aprisionar um animal de estimação.

                                                                                                                             VALTER HUGO MÃE

A aluna Mafalda Vieira, da turma 2401, da Escola Básica do Bonito, ilustrou assim este conto:




 Ela desenhou um pássaro, tal como dizia o autor, no local mais decente para aprisionarmos um  animal de estimação: o coração.


Também o aluno  Guilherme Simões, da mesma turma, 2401, e da mesma escola, EB do Bonito, resumiu assim o conto que ouviu:

Um menino queria ter vários animais, mas a sua mãe não o deixava, pois dizia-lhe que eram todos perigosos.
Ele foi dormir e sonhou com um pássaro. Quando acordou continuou a ouvir o pássaro. A mãe explicou-lhe que o que ele ouvia era um modo de amar.

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